Sempre que um pastor for indagado sobre a sua
profissão, qual deve ser a resposta? Incomoda-me quando afirmam que são
pastores, ou seja, que a profissão que exercem é a de pastor.
Quando tenho oportunidade de conversar com esses colegas mais próximos, sugiro
que respondam: autônomo em vez de pastor. É claro
que muitos discordam.
Mas o
tipo de resposta a ser dada não é o problema que quero levantar nessa postagem.
O ponto está mais além e é muito mais complexo. Inicialmente quero iniciar definindo o que significa ser um pastor e o
que significa ser um profissional.
Por
pastor entendo um ministério, um serviço dedicado ao Reino, ou seja, alguém que
exerce o dom do Espírito Santo no cuidado de um rebanho de acordo com as normas
contidas nas Escrituras. É UM
TRABALHO QUE NÃO VISA A PROMOÇÃO PESSOAL E NEM O LUCRO, EMBORA DELE RETIRE O
SEU SUSTENTO. Trata-se de um ministro do Evangelho. Por profissional entendo alguém que luta
por uma carreira bem sucedida que se estabelece pelo reconhecimento vindo de
outras pessoas. Também é a busca do progresso técnico que exige resultados
mensuráveis cujo corolário é a recompensa que surge por meio de altos salários
e de uma boa aposentadoria.
Não há nenhum problema em ser um bom profissional
na empresa ou na instituição pública. A questão é quando o ministério pastoral se profissionaliza.
Isso, sim, traz prejuízos à Igreja e ao propósito de Deus quanto ao amparo e,
até mesmo, a proteção do povo. Como já disse, o trabalho pastoral deve ser
visto como um ministério. Trata-se de um servo que preside, de um pai que
cuida, de um mestre que doutrina ou de um enfermeiro que trata. Resumindo, o
pastor é aquele que dá a vida pelo rebanho e o vivifica pelo poder de
Deus.
Já o
pastor profissional é aquele que não se dedica mais ao propósito principal no
qual fora vocacionado. Ele passa a não mais se importar com a simplicidade do
ministério. Sente necessidade de se perceber confortável e seguro de si e por
si mesmo, não importando os prejuízos que isso possa causar à igreja. Busca um
futuro previsível e um presente que satisfaça os desejos egoístas. A visão que
possui passa a ser regida pelo humanismo e sente a necessidade de ser notado
por aqueles que deslumbram o seu aparente sucesso. Ou seja, são pastores que
pastoreiam a si mesmo, todo o seu esforço é direcionado aos interesses
pessoais.
Não tenho dúvidas que tudo isso causa dor e
frustração no meio do rebanho que definha moribundo e desorientado,
principalmente quando percebe que o alvo de seu líder espiritual não é mais as
ovelhas, mas, sim, o próprio estômago enquanto fingem pastorear.
Nessa
altura surge uma pergunta: como podemos detectar alguém que deixou de ser um
ministro do Evangelho e passou a ser um executivo eclesiástico? Como resposta,
quero propor quatro características que são facilmente percebidas nesse tipo de
gente:
O PASTOR PROFISSIONAL É RASO NO ENSINO BÍBLICO. Este é um ponto extremamente
nocivo à igreja com conseqüências desastrosas. O pastor profissional não possui
a menor preocupação em se debruçar sobre livros, comentários ou literatura que
possam auxiliar no preparo dos sermões. Não há estudo sério da Palavra, não há compromisso
com a Verdade. Tais indivíduos acreditam que podem ir ao púlpito toda a semana
e falar o que lhe vem na mente naquele momento, sem se preocuparem com o
fortalecimento do rebanho contra o pecado. A tônica é sempre humanista e
tolerante sem que haja a denúncia contra o erro ou contra o mundanismo. Isso
porque o pastor profissional teme ser confrontado e, por essa razão, sempre
quer estar de bem com todos, principalmente com os crentes influentes do
meio.
O PASTOR PROFISSIONAL NÃO SE ENVOLVE PESSOALMENTE
COM AS OVELHAS. Todos sabem que o pastoreio não
se restringe aos principais cultos de domingo. Nenhum ministro de Deus se furta
do envolvimento pessoal com o povo por meio do discipulado ou do
aconselhamento. No entanto, o pastor profissional não leva em conta este
importante cuidado individual. Não cultiva o hábito do pastoreio direto, do
acompanhamento pessoal (por intermédio das visitas nas casas ou no trabalho em
horário de folga), dos aconselhamentos, dos contatos por carta ou pela Internet
(embora o relacionamento presencial seja insubstituível). Para ele tudo isso é
perda de tempo. Por vezes a ovelha está necessitando de uma palavra
orientadora, mas só consegue ser ouvida quando procura o psicanalista ou o
líder de outra denominação mais próxima de si cuja teologia é, muitas vezes,
questionável. São casais que vivem sob forte crise, relacionamentos desgastados
entre filhos e pais, desempregos que desesperam o coração, enfermidades que
atemorizam. São pessoas que gritam em silêncio sem, contudo, obter eco do seu
clamor. O pastor que possuem só pode vê-las aos domingos na porta da igreja ao
final do culto e que se limita em dizer a mesma frase por anos a fio: “como
vai? Que tenhas uma semana abençoada”. Nada mais que isso. Essas pobres ovelhas
nunca serão encorajadas a seguir em frente, nunca serão visitadas, nunca serão
aconselhadas, nunca receberão uma mão amiga e confiável. Ou seja, nunca
experimentarão o que é ser pastoreada, pois não possuem líderes amigos. Esses
tais são apenas meros profissionais.
O PASTOR PROFISSIONAL SÓ SE PREOCUPA CONSIGO MESMO. Personalismo parece ser a
palavra de ordem em alguns centros evangélicos. São pessoas que passam a vida
lutando por um espaço na mídia. O resultado é o desperdício de milhões de reais
utilizados para pagar campanhas inócuas ou programas televisivos vazios que
nada dizem além de discursos de auto-ajuda. Mas esse desejo não se restringe
aos grandes eventos ou aos grandes espaços continentais. Há também aqueles que
desejam fama em seu pequeno universo. Pode ser um Presbitério, uma pequena
região ou até mesmo uma igreja local. O alvo é a bajulação que surge por causa
de uma pretensa espiritualidade ou de uma suposta inteligência respaldada por
títulos e certificados alcançados. Não importa a causa, o importante é o
estrelismo. É por isso que muitos pastores profissionais se preocupam com o
crescimento numérico de seu rebanho em detrimento da qualidade, embora haja
também os que se conformaram com o número reduzido do rebanho. Nesses casos,
geralmente, a fama e o prestígio possuem outra fonte fora da igreja local.
Outra preocupação desses pastores é a sua renda mensal, o seu ganho financeiro.
Sempre defendem cinicamente seus bolsos sem, portanto, merecerem o que
pleiteiam ganhar. Buscam apenas os seus direitos em detrimento dos legítimos
direitos das ovelhas extorquidas. A meta é ter um emprego-igreja bem remunerado
que lhe conceda estabilidade financeira.
O PASTOR PROFISSIONAL NÃO É UM HOMEM DE DEUS. Isso significa a ausência de uma
dependência total do Senhor na vida por meio do temor, da Palavra e da oração.
São pessoas que confiam em si mesmas e não se importam em buscar de Deus a
direção certa. Não sentem falta nenhuma de expressar a submissão ao Espírito,
submissão esta que o próprio Jesus demonstrou quando esteve aqui entre nós. Não
são homens de oração, não são homens da Palavra, não são homens piedosos. Nunca
possuem uma vida devocional particular, nunca gemem por causa do pecado, nunca
se importam com a vontade de Deus. Sempre agem friamente e com extrema
impassibilidade diante de tudo que promove uma vida espiritual compromissada.
Na maioria das vezes são irônicos ou cínicos no que dizem ou falam com respeito
à piedade. Eles também agem despoticamente para que prevaleça a sua vontade,
não obstante a capa de aparente mansidão. São vazios do poder de Deus, são como
penhas que não podem alimentar ou fortalecer as ovelhas.
Quero
encerrar dizendo que, para mim, ser pastor profissional nada tem a ver com
tempo integral ou parcial no ministério. O ministro pode retirar o seu sustento
de um trabalho que não esteja ligado à sua igreja. Todavia, tal trabalho não
pode comprometer o tempo de qualidade pertencente ao rebanho quanto ao preparo
do sermão e quanto ao envolvimento pessoal. Entre um e outro, o pastorado é
prioridade. Se um dos dois deve ser descartado ou penalizado, que seja o
trabalho secular.
Muitas
igrejas padecem miséria espiritual porque estão debaixo de um pastor
profissional que há muito deixou de ser um ministro de Deus. Vale ressaltar que
essa mutação pecaminosa não acontece da noite para o dia, ela ocorre ao
decorrer dos anos quando aquilo que causava genuíno espanto, preocupação ou
interesse transforma-se em total irrelevância. O que era importante por
pertencer ao Reino, passa a ser desprezado totalmente.
Que Deus nos livre dos
pastores profissionais que sufocam as igrejas até o seu extermínio. Que haja
entre nós ministros sinceros e cônscios de que escolheram um excelente, sublime
e perene trabalho conforme nos diz o Apóstolo Paulo.
SOLA SCRIPTURA